Síndrome de Nagali: a ausência de impressões digitais
A dificuldade em segurar objetos tais como copos e talheres e de virar páginas, por exemplo, é uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos portadores da Síndrome de Nagali. Isso porque eles não possuem digitais, que são aquelas "linhas" que existem nas palmas das mãos e dos pés e é justamente através dessas "linhas" chamadas de dobras cutâneas, que somos identificados como um ser único. Mas e quem não as tem?
Em 2007, cerca de 3 mil pessoas no mundo eram portadoras da Síndrome de Nagali, doença raríssima onde a probabilidade de alguém nascer com ela é de 1 em cada 3 milhões de nascidos. E é justamente por ser tão incomum, que pouco se conhece sobre ela. O que se sabe, é que durante a gestação, o feto apresenta um defeito genético raríssimo que impede a formação das digitais, logo, é impossível que alguém possa adquirir a Síndrome de Nagali, depois de algum tempo. Segundo José Eduardo Márcico, Papiloscopista Policial da Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo, com formação em Processamento de Dados pela FATEC, "não podemos confundir Síndrome de Nagali com remoção das digitais por meio físico ou químico."
Há casos, mais comuns, de pessoas que perdem as temporariamente as digitais após algum tempo, mas na maioria dos casos é uma perda parcial ou reversível que acomete algumas pessoas, principalmente quem trabalha com produtos abrasivos, sem usar a devida proteção. Os trabalhadores de colheitas de frutas cítricas e pedreiros, por exemplo, são os casos mais comuns desse tipo. Isso se deve principalmente devido ao sumo produzido nas cascas das frutas cítricas e pela corrosão provocada pelo cimento e/ou cal, usado nos canteiros de obras. Mas nos dois casos, a perda acomete principalmente em quem possui pele fina ou digital "rasa". Isso não significa que ao pegar uma laranja, por exemplo, você corre o risco de ficar sem as suas digitais.
"Algumas doenças não congênitas podem vir a corroer as papilas dérmicas, entretanto se não causarem cicatrizes graves, as digitais poderão voltar da forma original. Portanto, são muitos os fatores que levam a perda "temporária" das digitais, mas que não têm nada a ver com a Síndrome de Nagali." relatou Márcico.
Mas além de tudo o que já foi dito, a síndrome também possui outras implicações, tais como unhas, dentes e cabelos frágeis, que correm um maior risco de caírem espontaneamente além de manchas marrons irregulares pelo corpo, no entanto, tais sintomas não são universais e variam de indivíduo para indivíduo. Não há cura e as chances do surgimento de novas digitais após algum tempo, são quase nulas.
"A identificação do indivíduo geralmente se dá pelos dedos maiores dos pés. Em caso de perda total, é usada a arcada dentária, como ocorre em acidentes graves. Os dispositivos eletrônicos de reconhecimento do formato do rosto e da íris (únicos em cada pessoa) são as alternativas mais viáveis", explica Carlos Roberto Antônio, dermatologista da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, SP.
Infelizmente, os portadores dessa síndrome ainda sofrem com a falta de informação das autoridades e de empresários, principalmente na obtenção de documentos oficiais e nos processos de seleção de empregos. Eles não querem piedade ou tratamento diferenciado. Querem apenas ser reconhecidos como pessoas normais, que não têm digitais, mas possuem muita dignidade e coragem para seguir adiante
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