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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Síndrome de Aicardi-Goutières (AGS)

A síndrome de Aicardi-Goutières (AGS) é uma encefalopatia subaguda hereditária caracterizada pela associação de calcificação dos gânglios da base, leucodistrofia e linfocitose do fluido cerebrospinal (CSF).

Até ao momento, existem pouco mais de 120 casos descritos na literatura.

A maioria das crianças afetadas nasce a termo e apresenta padrão de crescimento normal. Os sintomas aparecem nos primeiros dias ou meses de vida com uma encefalopatia subaguda grave (problemas de alimentação, irritabilidade, regressão ou atraso psicomotor), associada a epilepsia (53% dos casos), lesões de pele nas extremidades (43% dos casos) e episódios de doença febril asséptica (40% dos casos). Os sintomas progridem ao longo de vários meses (com o desenvolvimento de microcefalia e sinais piramidais), antes da estabilização da doença. Contudo, têm sido descritas formas menos graves com apresentação após um ano de idade, preservação da linguagem e da função cognitiva, e perímetro cefálico normal. O fenótipo mostra variação inter e intrafamiliar.

A transmissão é autossómica recessiva, mas têm sido descritos casos raros de hereditariedade autossómica dominante. Em 2006, foram identificadas mutações causativas em quatro genes: TREX1, que codifica uma exonuclease 3'->5', e nos genes RNASEH2A, RNASEH2B e RNASEH2C, que codificam subunidades do complexo da endonuclease RNASEH2. Mutações nos genes TREX1 (25% dos casos), RNASEH2C (14% dos casos) e RNASEH2A (4% dos casos) resultam num fenótipo grave, enquanto mutações no gene RNASEH2B (41% dos casos) geralmente levam a um fenótipo mais brando. Não há mutações nestes genes nos casos restantes. A calcificação (envolvendo os gânglios da base e a substância branca), a leucodistrofia quística (predominantemente frontotemporal) e a atrofia cortical-subcortical constituem as principais características para o diagnóstico, associadas frequentemente a atrofia do corpo caloso, tronco cerebral e cerebelo. Níveis elevados de IFN-alfa e linfocitose do CSF são características muito frequentes no estado inicial da doença (90% e 75% dos casos, respetivamente), mas não são achados constantes e tendem a normalizar-se ou a resolverem-se dentro de poucos anos.

O diagnóstico é confirmado pela detecção de uma mutação em um dos quatro genes causativos da doença.

Os diagnósticos diferencias principais são as infeções congênitas do tipo TORCH (toxoplasmose, rubéola, CMV, HSV1 e HSV2).

O diagnóstico pré-natal é possível através de análise molecular de fluido amniótico ou de trofoblasto.

O tratamento é sintomático (controlo dos problemas de alimentação, do atraso psicomotor e, se presente, da epilepsia).

Cerca de 80% dos doentes que apresentam a forma grave morrem dentro dos primeiros 10 anos de vida mas tem sido relatada sobrevivência após a primeira década de vida em formas moderadas.

Editor(es)

  • Dr Pierre BLANC
  • Prof Isabelle CREVEAUX