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quarta-feira, 7 de outubro de 2009
HISTIOCITOSE
Histiocitose
Informações general Sintomas Tratamento Prevenção Figuras
Nomes alternativos:
granuloma eosinofílico, doença de Hand-Schuller-Christian, histiocitose X, histiocitose das células de Langerhans, doença de Letterer-Siwe, reticuloendoteliose não lipídica, histiocitose X pulmonar, granulomatose pulmonar das células de Langerhans
Definição:
Nome genérico que inclui qualquer uma das 3 possibilidades relacionadas às síndromes caracterizadas por um aumento no número de histiócitos no sangue, e que possuem uma causa desconhecida.
Causas, incidência e fatores de risco:
A histiocitose pulmonar é caracterizada pela inflamação dos bronquíolos e dos pequenos vasos sangüíneos dos pulmões. Esse tipo de inflamação leva a uma rigidez (fibrose) e à destruição das paredes dos alvéolos. A causa é desconhecida.
As pessoas na faixa dos 30 a 40 anos de idade são afetadas com mais freqüência. O consumo de cigarros é um fator de risco para a histiocitose pulmonar. Essa doença apresenta com muita freqüência um quadro de pneumotórax espontâneo. A incidência da histiocitose é de cerca de 1 em cada 10.000 pessoas.
A histiocitose também pode se manifestar na infância. Em crianças, a histiocitose compromete tipicamente os ossos (80%) e pode se manifestar em uma ou em várias partes do corpo, sendo que o crânio é muito freqüentemente envolvido. Os tumores apresentam um aspecto de tecido puncionado quando vistos através do raio X do osso; além disso, os tumores nos ossos que suportam mais peso, como a coluna ou as pernas, podem sofrer uma fratura de maneira espontânea. O comprometimento sistêmico pode causar erupções, problemas pulmonares, alargamento do baço e do fígado, anemia e morte.
Crianças com idade superior a cinco anos têm freqüentemente apenas envolvimento ósseo. No entanto, aquelas que sobrevivem por longos períodos geralmente continuam a ter problemas. Crianças menores, principalmente os bebês, apresentam maiores possibilidades de apresentar um comprometimento sistêmico com resultados fatais
HISTIOCITOSE X (SÍNDROME DE HAND-SCHULLER-CHRISTIAN)
– RELATO DE CASO*
José Olimar Carneiro Filho1, Marta Santos Leite2, José Moacyr Andrade Neto3
Os autores relatam o caso de uma criança do sexo feminino, quatro anos de idade, que apresentava cefaléia,
irritabilidade, otorréia e exoftalmia unilateral. No estudo tomográfico e na radiologia convencional encontraram-
se grandes áreas líticas no crânio e na sua base. O restante do esqueleto não evidenciou anormalidades.
O diagnóstico de histiocitose X (síndrome de Hand-Schuller-Christian) foi confirmado pelo mielograma.
Este estudo mostra achados radiológicos e citológicos, além de apresentar uma revisão da literatura
sobre o caso.
Unitermos: Histiocitose. Histiocitose X. Hand-Schuller-Christian. Crânio.
Histiocytosis X (Hand-Schuller-Christian disease) – a case report.
The authors report a case of a 4-year-old girl with headache, irritability, otorrhea, and unilateral exophthalmus.
Computed tomography and plain films showed large lytic areas in the vault and base of the skull. No
other bones were involved. The diagnosis of histiocytosis X (Hand-Schuller-Christian disease) was confirmed
by bone marrow biopsy. This paper presents the cytological and radiological findings of this patient
as well as a review of the literature.
Key words: Histiocytosis. Histiocytosis X. Hand-Schuller-Christian. Skull.
Resumo
Abstract
* Trabalho realizado no Centro de Diagnóstico por Imagem
do Instituto Dr. José Frota (IJF) e na Clínica Radiológica
Beroaldo Jurema, Fortaleza, CE.
1. Médico Radiologista do Hospital Geral de Fortaleza, do
IJF e da Clínica Beroaldo Jurema, Membro Titular do Colégio
Brasileiro de Radiologia.
2. Médica Radiologista do Hospital Geral de Fortaleza e
da Clínica Beroaldo Jurema.
3. Médico Residente de Clínica Médica do Hospital Universitário
Lauro Wanderley, João Pessoa, PB.
Endereço para correspondência: Dr. José Olimar Carneiro
Filho. Rua Pereira de Miranda, 1110, apto. 301. Fortaleza,
CE, 60160-040. E-mail: olimar_carneiro@hotmail.com
Recebido para publicação em 18/5/2001. Aceito, após revisão,
em 10/9/2001.
INTRODUÇÃO
A histiocitose X é um distúrbio do sistema
reticuloendotelial, caracterizado pela
proliferação de macrófagos de aspecto normal,
com ou sem reação inflamatória associada
de eosinófilos, neutrófilos e células
mononucleares envolvendo o tegumento,
o osso e as vísceras. Sua etiologia é desconhecida.
As três síndromes clínicas conhecidas
– granuloma eosinófilo do osso, síndrome
de Hand-Schuller-Christian e síndrome
de Letterer-Siwe – compartilham
uma patologia semelhante.
A gravidade varia desde uma forma
benigna, em pacientes com lesões ósseas
solitárias ou multifocais, até deterioração
progressiva e morte em lactentes com comprometimento
visceral. A doença não costuma
ter característica familiar. O tecido
afetado apresenta hiperplasia retículo-endotelial
com infiltração disseminada por
células mononucleares bizarras e células
plasmáticas(1–3).
A síndrome de Hand-Schuller-Christian
é observada com mais freqüência em
crianças e jovens. A tríade clássica de defeitos
osteolíticos nos ossos membranosos,
exoftalmia e diabete insípido só ocorre
numa pequena porcentagem de casos, embora
a sua presença seja diagnóstica. A
doença não costuma ser fatal, mas é crônica
e, algumas vezes, progressiva.
RELATO DO CASO
Paciente do sexo feminino, quatro anos
de idade, branca, natural e residente em
Fortaleza, CE. Sua mãe relatou que a criança
vinha apresentando gradativa deformidade
facial e exoftalmia, ao longo de aproximadamente
dois anos, associada a episódios
de cefaléia e irritabilidade. Nas duas
últimas semanas a paciente passou a apresentar
otorréia unilateral, associada a otalgia
e hipoacusia.
O estudo radiológico convencional do
crânio evidenciou extensas áreas líticas
com bordas definidas na região parietal
direita, fronto-têmporo-parietal esquerda
com erosão da pirâmide petrosa e envolvimento
occipital homolateral (Figura 1). O
estudo radiológico do restante do esqueleto
não evidenciou anormalidades.
No estudo tomográfico do crânio observaram-
se lesões osteolíticas com coeficientes
de atenuação de partes moles, apresentando
impregnação do contraste, comprometendo
a calota craniana em regiões frontal,
temporal e occipital à esquerda e fronto-
parietal alta à direita (Figuras 2, 3 e 4 ).
Notou-se também envolvimento da parede
lateral e superior da órbita esquerda, determinando
deslocamento do globo ocular e
músculo reto-lateral medial e inferiormente
(Figura 3). Associado, observou-se acentuado
espessamento meníngeo adjacente às
lesões osteolíticas (Figura 5).
Houve destruição da pirâmide petrosa
à esquerda e da ponta do rochedo à direita
(Figura 6). Extensas lesões com características
semelhantes comprometiam a base do
crânio, com erosões ósseas no clívus, na
sela turca e no forame magno com extensão
ao canal vertebral (Figura 7). O parênquima
cerebral apresentava valores de atenuação
normais.
A partir dos achados radiográficos e
tomográficos, foi sugerido o diagnóstico de
histiocitose X (síndrome de Hand-Schuller-
Christian). O mielograma, realizado por
punção da crista ilíaca, revelou resistência
óssea normal, normocelularidade, série eritróide
(5%) hipoplasiada, série mielóide
Histiocitose X (síndrome de Hand-Schuller-Christian) – relato de caso
110 Radiol Bras 2002;35(2):109–112
(79%) hipoplasiada com todos os elementos
representados, relação M:E = 15,8/1,
série megacariocítica normoplasiada, linfócitos
(16%), sendo estas alterações degenerativas
dos histiócitos compatíveis com
histiocitose (Figura 8).
O estudo ecográfico do abdome para
pesquisa de lesões granulomatosas em vísceras
compactas (fígado, baço) ou outras
alterações relativas à histiocitose X não
revelou anormalidades.
DISCUSSÃO
Desconhece-se a real incidência da histiocitose
X, mas é provavelmente superior
a 1/100.000 por ano em crianças com menos
de um ano de idade, ou de 0,2/100.000
nos indivíduos com menos de 15 anos. Os
dados utilizados para a estimativa não incluíram
as crianças com granuloma eosinófilo
solitário ou disseminado, nem as com
síndrome de Hand-Schuller-Christian(4).
Não se sabe ao certo a causa da histiocitose
X. Apesar de a histiocitose X ser
considerada como distúrbio não hereditário,
os indivíduos do sexo masculino são
afetados duas vezes mais do que os do sexo
feminino.
Em geral, as manifestações clínicas aparecem
na primeira década e apresentam
incidência máxima no grupo etário entre
dois e seis anos de idade. Como a histiocitose
X pode afetar quase todos os órgãos,
A B C
Figura 1. Radiografias do crânio em póstero-anterior (A) e perfil (B) evidenciando extensas lesões líticas na região fronto-têmporo-parietal esquerda. Em C,
incidência de Towne, observam-se lesões líticas na pirâmide petrosa e no osso occipital à esquerda, e erosão da ponta do rochedo contralateral.
Figura 2. Corte tomográfico evidenciando lesões
osteolíticas com impregnação do contraste, envolvendo
regiões frontal e temporal à esquerda e
occipital bilateral.
Figura 3. Corte tomográfico mostrando comprometimento
da parede lateral da órbita esquerda e
de estruturas intra-orbitárias.
Figura 4. Lesão osteolítica em situação frontoparietal
alta à direita.
Carneiro Filho JO et al.
Radiol Bras 2002;35(2):109–112 111
os achados clínicos são extremamente variáveis.
Numa série de 39 pacientes de 16
anos de idade ou menos, as manifestações
radiológicas iniciais incluíram lesões ósseas
(n = 38) predominando no crânio (n =
14), fêmur (n = 9), escápula (n = 6) e mandíbula
(n = 4)(5–7).
A otite média, que é muitas vezes bilateral,
costuma resultar diretamente da invasão
das mastóides e porções pétreas dos
ossos temporais. A linfadenopatia pode
predominar em certas ocasiões. A tríade
clássica de exoftalmia, diabete insípido e
lesões esqueléticas ocorre raramente sem
outras manifestações clínicas, embora tenda
a aparecer entre dois e quatro anos de
idade. A exoftalmia, que pode ser unilateral
ou bilateral, pode produzir distúrbios
visuais e, com freqüência, está associada a
lesões esqueléticas destrutivas da órbita. As
lesões ósseas podem ou não produzir sintomas,
dependendo do local de comprometimento
do osso. Pode ocorrer colapso de
uma ou mais vértebras. As lesões do crânio,
que podem produzir áreas locais de
intumescimento, constituem o local mais
comum de comprometimento ósseo na histiocitose
X.
O comprometimento pulmonar é observado
em cerca de 25% dos casos. Todavia,
a angústia respiratória e o pneumotórax são
manifestações raras, que estão mais freqüentemente
associadas a outras manifestações
sistêmicas da doença(8).
As conseqüências a longo prazo da histiocitose
X erradicada ou cicatrizada incluem
insuficiência pulmonar e cor pulmonale,
devido à fibrose pulmonar ou hipertensão
porta causada pela fibrose hepática.
O diabete insípido pode representar também
uma seqüela tardia, mas, em geral,
ocorre dentro de 18 meses após o início do
comprometimento ósseo. Outras manifestações
do sistema nervoso central associadas
à histiocitose X incluem: crises convulsivas,
pressão intracraniana aumentada,
déficits neurológicos focais, retardamento
mental, perda da audição, tremor intencional
e atrofia ótica(9). O atraso de crescimento
que tem sido observado em um terço
dos pacientes(5) encontra-se muitas vezes
associado a um atraso da idade óssea,
demora no fechamento das epífises e hipogonadismo
com ausência de desenvolvimento
sexual, indicando comprometimento
do hipotálamo ou da hipófise(10).
O comprometimento do esqueleto pode
manifestar-se sob a forma de áreas circunscritas
solitárias ou múltiplas de destruição
osteolítica no interior do osso. Estas áreas
de destruição osteolítica podem aparecer
rapidamente, e se houver múltiplas lesões
elas podem estar em vários estágios de cicatrização.
As cintilografias ósseas com
Figura 5. Corte tomográfico mostrando espessamento
meníngeo com impregnação do contraste,
adjacente às lesões osteolíticas.
Figura 6. Destruição da pirâmide petrosa à esquerda
e da ponta do rochedo contralateral.
Figura 7. Extensas lesões osteolíticas envolvendo
estruturas da base craniana.
Figura 8. Mielograma evidenciando alterações degenerativas dos histiócitos compatíveis com histiocitose.
Histiocitose X (síndrome de Hand-Schuller-Christian) – relato de caso
112 Radiol Bras 2002;35(2):109–112
tecnécio podem ser positivas nas lesões
com atividade osteoblástica. O crânio é o
local mais freqüente de comprometimento
ósseo. As lesões aparecem como áreas de
destruição medular e cortical, bem como a
nova formação de osso periosteal é comum.
Quando a mandíbula está afetada, a destruição
da lâmina dura do alvéolo e do osso alveolar
de sustentação dá, com freqüência,
a ilusão de que os dentes estão flutuando
no ar. Se a base do crânio estiver afetada, a
destruição costuma ocorrer nas porções
mastóides e petrosas do osso temporal. Em
geral, o comprometimento dos corpos vertebrais
começa como uma área puramente
osteolítica, que progride para o colapso do
corpo afetado, com disco uniformemente
delgado e denso (vértebra plana).
O colapso pode ser assimétrico, com
aspecto de cunha anterior, e costuma ser
observado em algum estágio do processo.
Um dos aspectos importantes para diferenciar
estas lesões das infecções dos corpos
vertebrais consiste na preservação da altura
do espaço intervertebral(6).
O índice de sobrevida geral das crianças
com histiocitose X é de 70%(9,11). Vários
fatores foram considerados importantes
indicadores para o prognóstico: 1) idade
do paciente no início da doença; 2) extensão
da doença clínica, determinada pelo
exame físico, avaliação laboratorial e radiológica;
3) local específico de comprometimento
orgânico; 4) probabilidade de
uma resposta satisfatória à terapia, baseada
na retenção da função do órgão afetado,
bem como no quadro patalógico específico
do órgão comprometido na biópsia.
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