A Ilha São João, em Volta Redonda, recebe a partir da próxima sexta-feira o maior evento esportivo para pessoas com deficiência do Brasil: é a Olimpede, que este ano contará com cerca de 3.200 atletas durante os quatro dias de competição. Mais de 300 entidades de quatro estados diferentes (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo) vão disputar 12 modalidades até o dia 19, com os participantes divididos em quatro categorias: deficiente intelectual, físico, auditivo e visual.
A Olimpede é organizada pela Prefeitura de volta Redonda em parceria com o governo do estado e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), e conta com a chancela do Ministério dos Esportes e do Comitê Paraolímpico Brasileiro. A primeira competição do evento será a natação, às 8 horas do dia 16, mas um dos eventos mais aguardados será a apresentação da equipe brasileira de Rugby de Cadeirante, no dia 18, às 15 horas. A modalidade vai fazer parte da programação olímpica a partir dos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro.
Entre as modalidades que serão disputadas pelos atletas estão o atletismo, futsal, voleibol especial, provas de habilidade, dominó, dama, futebol society, natação, cabo de guerra, tênis de mesa, xadrez e arremesso à cesta. Um dos objetivos da competição é justamente possibilitar e incentivar a descoberta de novos talentos paraolímpicos e iniciar a formação de equipes de alto rendimento.
Os resultados da Olimpede, porém, ultrapassam o plano esportivo: a oportunidade de propiciar às pessoas com deficiência uma atividade esportiva ajuda na inserção social e na melhora da autoestima.
É o caso da jovem Cheyenne Rodrigues, de 20 anos, moradora do bairro Siderlândia. Ela começou a sofrer fortes dores de cabeça aos nove anos de idade, quando então foi diagnosticado que ela sofria de neoplasia maligna do cérebro, doença que apresenta sequelas motoras e neurocognitivas. Ela chegou a ficar 45 dias em coma na ocasião, sendo depois transferida para o Inca (Instituto Nacional do Câncer), no Rio de Janeiro. Outra cirurgia foi realizada em 2002, além de quimioterapia e radioterapia.
O pai de Cheyenne, o aposentado Gilmar Antônio Rodirgues, de 48 anos, disse que a jovem está praticamente livre do tumor, e que ela leva uma vida normal dentro do possível. Segundo ele, sua filha tem boa capacidade de memorização de nomes, conversas - sendo complicada, no caso dela, a capacidade motora e de aprendizado.
- O início foi muito difícil. Tivemos que ficar na capital para o tratamento, mas posso agradecer à ajuda das pessoas e da comunidade nessa época, que nos deram apoio - disse Gilmar destacando ainda o auxílio do padre Juarez Sampaio e dos moradores do bairro, que auxiliaram na aquisição da casa onde a família vive atualmente.
‘Vitória da superação'
Segundo Gilmar, Cheyenne faz fisioterapia e atividades ocupacionais na Apadefi (Associação de Pais e Amigos dos Deficientes de Volta Redonda). A atividade esportiva surgiu na vida dela há pouco mais de cinco anos, com a melhora na movimentação motora. Foi então que ela começou a participar da Olimpede, onde disputa as categorias de arremesso à cesta e cabo de guerra.
- É um incentivo para ela, ainda mais quando ganha. É a vitória da superação - afirmou, emocionado. - É maravilhoso ver aquela alegria contagiante de todos, é muito emocionante. É uma coisa que faltava para eles (pessoas com deficiência), que passei a acompanhar e compartilhar. Eu só posso agradecer à prefeitura pela iniciativa.
O aposentado disse que a filha não fica parada: ela varre a casa, faz os deveres de casa e brinca com a irmã mais nova, Jéssica, que vai assistir à participação de Cheyenne pela primeira vez na competição.
- Eu fico muito feliz por ela conquistar as medalhas - declarou.
A atleta garante que sempre procura manter-se em atividade, inclusive participando das colônias de férias. Para ela, a Olimpede é uma ocasião especial:
- Eu fico esperando pelo dia da competição, é a chance de conhecer outros amigos - declarou a jovem.
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Motivação em Resende
A professora de educação física da Pestalozzi de Resende, Zilmara Chaves de Campos, disse que os 48 alunos da instituição que vão participar da Olimpede este ano estão motivados e ansiosos para o início da competição. Segundo ela, está sendo feita até uma contagem regressiva entre eles.
Para Zilmara, é importante também destacar os benefícios que os jogos trazem no que diz respeito à inclusão social e socialização.
- O contato com outras instituições nos permite trocar conhecimentos, e os alunos podem conhecer novas pessoas - explicou.
Mostrar à sociedade a capacidade dos estudantes da Pestalozzi é outro ponto positivo observado pela professora.
- A Olimpede não é recreação, é competição. As pessoas acham que eles não são capazes, mas os alunos surpreendem até mesmo aos profissionais. A gente procura direcioná-los para a modalidade em que têm maior aptidão. O nível do futsal e do atletismo é muito próximo do que se vê entre quem não é profissional - afirmou ela.
Zilmara disse ainda que a instituição procura trabalhar o conteúdo pedagógico nas aulas de educação física. Ela procura conversar com as demais professoras para saber o que elas estão ensinando na sala de aula para, assim, adaptar esse material às atividades físicas.
- Todos os alunos fazem as aulas de educação física, inclusive os cadeirantes, mesmo que eles não participem das competições - concluiu.
Craques do passado serão ‘coadjuvantes'
Pelo menos três ex-jogadores com passagem pela Seleção Brasileira estarão presentes na Olimpede, na próxima sexta-feira, para disputarem uma partida com um time de deficientes visuais. O campeão da Copa de 94, Ricardo Rocha, o também tetracampeão - e atual deputado federal - Romário (PSB) e seu colega no Congresso, Deley de Oliveira (PSC), jogarão com os olhos vendados. Um dos objetivos é que o trio vivencie as dificuldades dos atletas especiais, além de ajudar na promoção dos atletas paraolímpicos.