Folie à deux ("Loucura a dois" em francês, pronuncia-se: foli-à-dâ) é uma sintomatologia psicopatológica na qual sintomas psicóticos são compartilhados por duas pessoas, geralmente da mesma família ou próximas.[1]Quando a família tem um estrutura psicótica pode ser chamada de folie en famille. No CID 10 é classificado como um "Transtorno psicótico induzido"(F24) na sub-categoria transtorno esquizotípico (F20 a 30). E no DSM é classificado como "Transtorno psicótico compartilhado". Esse termo deve ser usado para descrever a relação psicopatológica independente dos diagnósticos individuais dos envolvidos. [2]
[editar]de ser necessário separar os envolvidos durante o tratamento para prevenir que eles reforcem os comportamentos inadequados entre si. Quando o transtorno está sendo induzido por um psicótico (chamado de primário) em uma ou mais pessoas vulneráveis, porém com boa capacidade de interpretação da realidade social, os sintomas das vítimas tendem a desaparecer apenas com terapia, sem a necessidade de medicamentos.
É mais frequente em famílias que vivam juntas (principalmente pais e filhos próximos) pelos fatores genéticos, ambientais, interpessoais, sociais e culturaiscompartilhados entre eles e envolvidos na formação de uma psicose. [3]
Adolescentes e adultos jovens são mais vulneráveis a psicoses. Ileno Costa e Isalena Carvalho (2007) defendem que toda psicose é resultado de um adoecimento da estrutura familiar e da própria sociedade sendo protagonizada por indivíduos vulneráveis. [4] E a possibilidade de compartilhar sintomas psiquiátricos mesmo em pessoas sem genética reforça a importância que o psicológico, a sociedade e o ambiente tem sobre os indivíduos em oposição ao modelo tradicional que considerava a psicose como uma doença apenas genética.
Pode ocorrer por imposição em uma relação de poder (Folie imposée) quando uma pessoa impões crenças altamente prejudiciais, inadequadas e socialmente não-compartilhadas (ex: religiões novas, teorias de conspiração...) para uma ou mais pessoas vulneráveis ou ambos podem ter transtornos psicóticos e compartilharem suas crenças entre si (Folie simultanée), influenciando o comportamento um do outro.[5]
Quando envolve mais de duas pessoas pode ser chamada de folie à tróis (loucura a três), folie à quatre (loucura a quatro) ou folie à plusieurs (loucura de muitos). E possível que alguns cultos radicais extremistas, suicídios em massa e teoristas de conspiração possam ser casos de folie à plusieurs.
- ↑ Berrios G E (1998) Folie à deux (by W W Ireland). Classic Text Nº 35. History of Psychiatry 9: 383-395
- ↑ Teixeira, Paulo José Ribeiro; Araújo, Glauco Corrêa; Rocha, Fábio Lopes. Folie à deux: Revisáo crìtica da literatura J. bras. psiquiatr;41(2):61-5, mar. 1992.
- ↑ Maharaj, K. M; Hutchinson, Gerald A. Shared-induced paranoid disorder Folie a deux between mother and son. West Indian med. j;41(4):162-3, Dec. 1992.
- ↑ CARVALHO, Isalena Santos; COSTA, Ileno Izídio e BUCHER-MALUSCHKE, Júlia S. N. F.. Psicose e Sociedade: interseções necessárias para a compreensão da crise. Rev. Mal-Estar Subj. [online]. 2007, vol.7, n.1 [citado 2011-04-06], pp. 163-189 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482007000100010&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1518-6148.
- ↑ Journal of Nervous and Mental Disorders, 1956, Vol 124: 451-459
Duplo Vínculo (do inglês Double bind) é um conceito da psicologia para se referir a relacionamentos contraditórios onde são expressados comportamentos de afeto e agressão simultaneamente, onde ambas pessoas estão fortemente envolvidas emocionalmente e não conseguem se desvincular uma da outra. Foi cunhado por Gregory Bateson em 1956, um dos membros do grupo de Palo Alto/California.[1]
Inicialmente foi usada no estudo do comportamento de famílias esquizofrênicas, especialmente na relação entre mães e filhos. Os autores identificaram vários sintomas da esquizofrenia como resultado desse vínculo, como o sentimento de insegurança, reações de agressividade, medo e evitação afetivos e a dificuldade em entender e se identificar com outras pessoas. Atualmente os experimentos indicam que a esquizofrenia tem fatores principalmente genéticos, porém os psicólogos concordam que existem fatores ambientais, emocionais e sociais importantes que podem proteger ou agravar aqueles os transtornos.
Posteriormente também foi usado no estudo de neuroses e violência conjugal.
Um Estudo recente critica a patologização dos relacionamentos contraditórios defendendo que eles são naturais e ferramentas necessárias no sistema humano de formação de significado.[2] Um outro estuda defende o oposto, definindo o Duplo Vínculo como um fenômeno universal patológico responsável por muitos tipos de transtornos como transtorno de personalidade histriônica, fobia e transtorno obsessivo-compulsivo.
Existem inúmeras possibilidades de duplos vínculos, mas algumas das mais comuns e estudadas são:
- A mãe que diz que ama seu filho porém o negligencia diariamente.
- O marido que logo após bater na esposa pede perdão e se propõe a reparar romantismos.
- O cuidador que ao mesmo tempo que expressa compaixão e atenção a um paciente também expressa tédio, cansaço e o culpa pela situação.
- Para que haja o duplo vínculo, são necessários cinco fatores[4]:
- Duas ou mais pessoas envolvidas emocionalmente. Geralmente com uma delas sofrendo mais e somatizando esse sofrimento.
- Experiências repetidas. O duplo vínculo não é resultado de apenas um evento traumático, mas sim de uma relação recorrente que caracterize o relacionamento e forme expectativas habituais.
- Comportamento prejudicial primário. Geralmente as punições feitas por quem possuir mais poder nesse relacionamento para controlar quem possui menos poder. Esse comportamento frequentemente é o que define a relação ao invés das recompensas. A punição pode ser a perda do amor, expressões de raiva e agressividade ou mesmo a expressão de extrema decepção.
- Comportamento prejudicial secundário contradizendo o primário. Geralmente feita não-verbalmente e por muito mais difícil de ser percebida. Nela se nega os efeitos negativos do comportamento prejudicial primário. Exemplos de verbalizações podem ser: "Eu não quero te machucar, é para seu próprio bem", "Não questione meu amor por você", "Não me trate como vilão nessa história"...
- Impossibilidade de escapar. Pode ser um laço familiar, a pressão social para manter um casamento ou questões financeiras, mas eles também podem ser promessas de amor ou uma regra culturalmente estabelecida. Dificilmente a vítima está disposta a recorrer judicialmente para sair dessa situação e em muitos casos ela nem conhece essa possibilidade.
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