PARCERIAS

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Epilepsia reflexa ou de indução sensorial


Carac t e r i za- se pelo aparecimento
de crises epilépticas induzidas por estímulos ambientais específicos. Estímulos visuais,
auditivos, olfatórios, gustativos, somestésticos e viscerais podem precipitar tais crises 1.5.8,12, A epilepsia fotossensível foi descrita inicialmente por Gowe r s io, em 1885
e, em seu conceito atual, incluem-se pacientes com crises epilépticas e fotossensibilidade,  carac t e r i zada pela presença da «resposta fotoparaxistica»  ( R F P) ao exame
eletrencefalográfico  ( E E G) 6. A  R FP consiste de de s carga generalizada, geralmente
de pontas ou complexos poli-ponta-onda,  r egi s t rada em todas as regiões do cérebro
durante a foto-estimulação intermitente  ( F E I )
1 4
. As  r e spos tas localizadas em regiões
anteriores  ( r e spos ta fotomioclônica ou fotomiogênica) ou posteriores («driving» fótico)
são consideradas fisiológicas e  são excluídas do conceito de  R FP  1
4
-
1 9
. Segundo
Jeavons e Harding 12, a epilepsia fotossensível pode ser de dois tipos: 1. Epilepsia
fotossensível pura — forma  r a ra de epilepsia reflexa, na qual as crises epilépticas são
precipitadas somente pela estimulação  l u m i n o s a
7
;  2. Epilepsia com fotossensibilidade
— pacientes com crises epilépticas não relacionadas ao estímulo luminoso, porém com
fotossensibilidade  ao  E EG
  6
> 2 0. A epilepsia fotossensível tem prevalência estimada em
I para 10000 pessoas 13, sendo as mulheres duas vezes mais acometidas que os
homens 20. A fotossensibilidade tem sido descrita em pacientes de ambos os sexos,
com idade compreendida entre 7 meses e 65 anos e com maior freqüência entre os
II e 15 anos de idade 16. Jeavons e Harding
  1 2
 relatam nítida predisposição à epilepsia
fotossensível em gêmeos monozigóticos. Na revisão de Newmark e  P e n r y i s, até  3 9%
dos pacientes fotossensíveis apresentam história familiar positiva para epilepsia. Os
pacientes usualmente respondem à  F EI com crises mioclônicas, tônico-clônicas ou
ausências, embora crises parciais possam também estar presentes 8. O tipo de apresentação mais comum da epilepsia fotossensível pura é a chamada epilepsia da televisão 4.9,18.
S e t or de  I n v e s t i g a ç ão e  T r a t a m e n to das  E p i l e p s i as  ( S I T E) da  E s c o la  P a u l i s ta de Medic ina  ( E P M ): * Médi ca  E s t a g i a r i a; **  M e s t re em Ne u r o l o g ia  p e la  E P M; ***  P ó s -Gr a d u a n do
(Me s t r a d o) em Neurologi a,  E P M; ****  P r o f e s s or Ad j u n t o -Do u t or e Chefe do  S I T E,  E P M.
Apoio  f i n a n c e i r o:  C A P E S,  F I N E P, CNPq.
Dr. Carlos J. Reis de Campos — Serviço de Investigação e Tratamento das Epilepsias, Disciplina de Neurologia, Escola Paulista de Medicina - Rua Botucatu 740 - 04023 São Paulo SP -
Brasil. O presente estudo tem a finalidade de relatar dois  casos de epilepsia fotossensivel, dando ênfase à epilepsia da televisão, que é forma  r a ra de epilepsia.
O B S E R V A Ç Õ ES
Caso 1 —  L F D,  p a c i e n te do  s e xo  f eminino, com 15 anos de idade;,  a p r e s e n t a, desde os
10  anos de idade,  c r i s es  g e n e r a l i z a d as  t ô n i c o - c l ô n i c as  s empre quando  a s s i s t i n do a  t e l evi s ão.
O pr ime i ro episódio ocor r eu  enquanto  a s s i s t ia a  p r o g r ama em  t e l evi s ão pr e to e br anco, mal
r e g u l a d a. As  o u t r as duas  c r i s es  e p i l é p t i c as  o c o r r e r am di ante de  t e l e v i s õ es  color ida s, bem
r e g u l a d a s. Não  e x i s t i am  a n t e c e d e n t es  p e s s o a i s, por ém havia  h i s t ó r ia  f ami l i ar pos i t iva  p a ra
e p i l e p s i a: uma  t ia  a p r e s e n ta  c r i s es  g e n e r a l i z a d as  t ô n i c o - c l ô n i c a s. Os  e x a m es  c l í n i co e  n e u r ológi co  for am  n o rma i s.  F o r am  r e a l i z ados 4  E EG e, em todos,  r e g i s t r o u - se  a t ividade de  b a se
normal e  comul exos pol i -pont a -onda de  p r o j e ç ão difusa e  b i l a t e r a l, pr edominando em  á r e as
a n t e r i o r e s, com  p r e s e n ça de  R F P à  F E I, com  t r e ns de  f r e q ü ê n c ia mi s t a. A  p a c i e n te encont r a - se em  s e g u ime n to  c l íni co  há 4  anos, fazendo uso  de  f e n o b a r b i t al (100  m g / d i a) e,  a t u a lme n t e,  a s s i s te a  t e l e v i s ão  c o l o r i da a  uma  d i s t â n c ia  de 3 me t r os e com a luz  a c e sa no  c e n t ro
da  s a l a. Não  m a is  a p r e s e n t ou  c r i s es desde que  e s s as medidas  for am  i n s t i t u í d a s,  emb o ra
a i n da  a p r e s e n te  R F P  ao  E E G.
Caso 2 —  R S D,  p a c i e n te do  s e xo ma s cul ino, com 15  a n os de idade,  t eve  s ua  p r ime i ra
c r i se  eml é p t i ca  há 1  ano. No  p r ime i ro episódio foi  encont r ado em  e s t ado pós-convulsivo
d i a n te de  t e l e v i s ão  c o l o r i da bern  r e g u l a d a. Qua t ro me s es após,  d u r a n te  f e s ta  em que  e r am
u s a d as luzes  e s t r o b o s c ó p i c as  v e rme l h a s,  a p r e s e n t ou  c r i se  g e n e r a l i z a da  t ô n i c o - c l ô n i ca e, 15
d i as depois,  a p r e s e n t ou nova  c r i se com  as me smas  c a r a c t e r í s t i c as  e n q u a n to  a s s i s t ia a proj e ç ão de di apos i t ivos. Não  e x i s t i am  a n t e c e d e n t es pe s soa is ou  h i s t ó r ia  f ami l i ar pos i t iva  p a ra
epi l eps i a. Os  e x ames  c l í n i co e neurológi co  for am  n o rma i s. O  E EG mos t rou  a t ividade de
b a se  n o rmal e  p r e s e n ça de  s u r to úni co de  c omp l e xo pol i -pont a -onda a 3 Hz, de  p r o j e ç ão
b i l a t e r al e  s i n c r o n a,  d u r a n te a  F E I, com  t r e ns de  f r e q ü ê n c ia  m i s t a. O pa c i ente  e s tá em uso
de  f e n o b a r b i t al (100  m g / d i a) e  e n c o n t r a - se em  s e g u ime n to  há ti me s e s,  n ão tendo  a p r e s e n t a do
c r i s es  e p i l é p t i c as de sde  e n t ã o.
C O M E N T Á R I OS
Segundo Newmark e Penry  ! 6, a idade de maior freqüência da epilepsia fotossensivel é dos 11 aos 15 anos, em ambos os  s exos.  E s s es autor es também verificaram
que as mulheres  são duas vezes mais acometidas que os homens, independentemente
do tipo de crise epiléptica. Habitualmente encontra-se história familiar positiva  p a ra
epilepsia, na epilepsia  r e f l e x a
4
»
8
.
1 7
. Quanto ao tipo de crise, nossos  c a s os apr esentam, como manifestação clínica, crises generalizadas tônico-clônicas, o que está
de acordo com a literatura, visto que na maioria dos estudos é relatado predomínio
de crises generalizadas que podem ser tônico-clônicas, mioclônicas e  a u s ê n c i a s
8
'
1 7
.
P a ra alguns autor es a epilepsia da televisão é o tipo de apr e s entação mais
comum da epilepsia fotossensivel
  1 2
. i s. Segundo o relato de Jeavons e Harding  1 2?
J 2 , 5% dos pacientes epilépticos fotossensíveis apresentam crises somente assistindo a
televisão.  E s s es dados  são analisados por Mayr et  a l .
1 6
 que relacionam como principal
explicação, o fato de apresentarem os televisores coloridos modernos menor intensidade
de luz, melhoria na transmissão e diminuição das interferências, em  r e lação aos aparelhos monocromáticos da época em que os estudos anteriores foram realizados.
Dentre as medidas preventivas propostas  p a ra pacientes epilépticos fotossensíveis, pareece ser de suma importância a indicação de assistir a televisão em aparelhos
a cores, a distância superior a 3 metros, com o ambiente mantido iluminado indiretamente 2,8,17.  E s sa última medida decorre do fato de que, quando se está sentado
perto da televisão, a imagem ge rada por esta cobre extensa  á r ea da retina, provocando maior estimulação
  2
.
1 2
.
Embora o tratamento mais eficaz  p a ra o paciente fotossensivel seja evitar condições estimulantes que provocam crises epilépticas, dependendo do tipo e freqüência
de crises, pode-se prescrever profilaticamente drogas anti-epilépticas, como fenobarbital, fenitoina
  2
>
1 7
,  v a l p r o a t e
1 1
 ou  b e n z o d i a z e p i n e s
3
. Em nossos casos instituímos
o uso do fenobarbital e obtivemos controle das crises epilépticas durante o tempo de
seguimento. R E F E R Ê N C I AS
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