Carac t e r i za- se pelo aparecimento
de crises epilépticas induzidas por estímulos ambientais específicos. Estímulos visuais,
auditivos, olfatórios, gustativos, somestésticos e viscerais podem precipitar tais crises 1.5.8,12, A epilepsia fotossensível foi descrita inicialmente por Gowe r s io, em 1885
e, em seu conceito atual, incluem-se pacientes com crises epilépticas e fotossensibilidade, carac t e r i zada pela presença da «resposta fotoparaxistica» ( R F P) ao exame
eletrencefalográfico ( E E G) 6. A R FP consiste de de s carga generalizada, geralmente
de pontas ou complexos poli-ponta-onda, r egi s t rada em todas as regiões do cérebro
durante a foto-estimulação intermitente ( F E I )
1 4
. As r e spos tas localizadas em regiões
anteriores ( r e spos ta fotomioclônica ou fotomiogênica) ou posteriores («driving» fótico)
são consideradas fisiológicas e são excluídas do conceito de R FP 1
4
-
1 9
. Segundo
Jeavons e Harding 12, a epilepsia fotossensível pode ser de dois tipos: 1. Epilepsia
fotossensível pura — forma r a ra de epilepsia reflexa, na qual as crises epilépticas são
precipitadas somente pela estimulação l u m i n o s a
7
; 2. Epilepsia com fotossensibilidade
— pacientes com crises epilépticas não relacionadas ao estímulo luminoso, porém com
fotossensibilidade ao E EG
6
> 2 0. A epilepsia fotossensível tem prevalência estimada em
I para 10000 pessoas 13, sendo as mulheres duas vezes mais acometidas que os
homens 20. A fotossensibilidade tem sido descrita em pacientes de ambos os sexos,
com idade compreendida entre 7 meses e 65 anos e com maior freqüência entre os
II e 15 anos de idade 16. Jeavons e Harding
1 2
relatam nítida predisposição à epilepsia
fotossensível em gêmeos monozigóticos. Na revisão de Newmark e P e n r y i s, até 3 9%
dos pacientes fotossensíveis apresentam história familiar positiva para epilepsia. Os
pacientes usualmente respondem à F EI com crises mioclônicas, tônico-clônicas ou
ausências, embora crises parciais possam também estar presentes 8. O tipo de apresentação mais comum da epilepsia fotossensível pura é a chamada epilepsia da televisão 4.9,18.
S e t or de I n v e s t i g a ç ão e T r a t a m e n to das E p i l e p s i as ( S I T E) da E s c o la P a u l i s ta de Medic ina ( E P M ): * Médi ca E s t a g i a r i a; ** M e s t re em Ne u r o l o g ia p e la E P M; *** P ó s -Gr a d u a n do
(Me s t r a d o) em Neurologi a, E P M; **** P r o f e s s or Ad j u n t o -Do u t or e Chefe do S I T E, E P M.
Apoio f i n a n c e i r o: C A P E S, F I N E P, CNPq.
Dr. Carlos J. Reis de Campos — Serviço de Investigação e Tratamento das Epilepsias, Disciplina de Neurologia, Escola Paulista de Medicina - Rua Botucatu 740 - 04023 São Paulo SP -
Brasil. O presente estudo tem a finalidade de relatar dois casos de epilepsia fotossensivel, dando ênfase à epilepsia da televisão, que é forma r a ra de epilepsia.
O B S E R V A Ç Õ ES
Caso 1 — L F D, p a c i e n te do s e xo f eminino, com 15 anos de idade;, a p r e s e n t a, desde os
10 anos de idade, c r i s es g e n e r a l i z a d as t ô n i c o - c l ô n i c as s empre quando a s s i s t i n do a t e l evi s ão.
O pr ime i ro episódio ocor r eu enquanto a s s i s t ia a p r o g r ama em t e l evi s ão pr e to e br anco, mal
r e g u l a d a. As o u t r as duas c r i s es e p i l é p t i c as o c o r r e r am di ante de t e l e v i s õ es color ida s, bem
r e g u l a d a s. Não e x i s t i am a n t e c e d e n t es p e s s o a i s, por ém havia h i s t ó r ia f ami l i ar pos i t iva p a ra
e p i l e p s i a: uma t ia a p r e s e n ta c r i s es g e n e r a l i z a d as t ô n i c o - c l ô n i c a s. Os e x a m es c l í n i co e n e u r ológi co for am n o rma i s. F o r am r e a l i z ados 4 E EG e, em todos, r e g i s t r o u - se a t ividade de b a se
normal e comul exos pol i -pont a -onda de p r o j e ç ão difusa e b i l a t e r a l, pr edominando em á r e as
a n t e r i o r e s, com p r e s e n ça de R F P à F E I, com t r e ns de f r e q ü ê n c ia mi s t a. A p a c i e n te encont r a - se em s e g u ime n to c l íni co há 4 anos, fazendo uso de f e n o b a r b i t al (100 m g / d i a) e, a t u a lme n t e, a s s i s te a t e l e v i s ão c o l o r i da a uma d i s t â n c ia de 3 me t r os e com a luz a c e sa no c e n t ro
da s a l a. Não m a is a p r e s e n t ou c r i s es desde que e s s as medidas for am i n s t i t u í d a s, emb o ra
a i n da a p r e s e n te R F P ao E E G.
Caso 2 — R S D, p a c i e n te do s e xo ma s cul ino, com 15 a n os de idade, t eve s ua p r ime i ra
c r i se eml é p t i ca há 1 ano. No p r ime i ro episódio foi encont r ado em e s t ado pós-convulsivo
d i a n te de t e l e v i s ão c o l o r i da bern r e g u l a d a. Qua t ro me s es após, d u r a n te f e s ta em que e r am
u s a d as luzes e s t r o b o s c ó p i c as v e rme l h a s, a p r e s e n t ou c r i se g e n e r a l i z a da t ô n i c o - c l ô n i ca e, 15
d i as depois, a p r e s e n t ou nova c r i se com as me smas c a r a c t e r í s t i c as e n q u a n to a s s i s t ia a proj e ç ão de di apos i t ivos. Não e x i s t i am a n t e c e d e n t es pe s soa is ou h i s t ó r ia f ami l i ar pos i t iva p a ra
epi l eps i a. Os e x ames c l í n i co e neurológi co for am n o rma i s. O E EG mos t rou a t ividade de
b a se n o rmal e p r e s e n ça de s u r to úni co de c omp l e xo pol i -pont a -onda a 3 Hz, de p r o j e ç ão
b i l a t e r al e s i n c r o n a, d u r a n te a F E I, com t r e ns de f r e q ü ê n c ia m i s t a. O pa c i ente e s tá em uso
de f e n o b a r b i t al (100 m g / d i a) e e n c o n t r a - se em s e g u ime n to há ti me s e s, n ão tendo a p r e s e n t a do
c r i s es e p i l é p t i c as de sde e n t ã o.
C O M E N T Á R I OS
Segundo Newmark e Penry ! 6, a idade de maior freqüência da epilepsia fotossensivel é dos 11 aos 15 anos, em ambos os s exos. E s s es autor es também verificaram
que as mulheres são duas vezes mais acometidas que os homens, independentemente
do tipo de crise epiléptica. Habitualmente encontra-se história familiar positiva p a ra
epilepsia, na epilepsia r e f l e x a
4
»
8
.
1 7
. Quanto ao tipo de crise, nossos c a s os apr esentam, como manifestação clínica, crises generalizadas tônico-clônicas, o que está
de acordo com a literatura, visto que na maioria dos estudos é relatado predomínio
de crises generalizadas que podem ser tônico-clônicas, mioclônicas e a u s ê n c i a s
8
'
1 7
.
P a ra alguns autor es a epilepsia da televisão é o tipo de apr e s entação mais
comum da epilepsia fotossensivel
1 2
. i s. Segundo o relato de Jeavons e Harding 1 2?
J 2 , 5% dos pacientes epilépticos fotossensíveis apresentam crises somente assistindo a
televisão. E s s es dados são analisados por Mayr et a l .
1 6
que relacionam como principal
explicação, o fato de apresentarem os televisores coloridos modernos menor intensidade
de luz, melhoria na transmissão e diminuição das interferências, em r e lação aos aparelhos monocromáticos da época em que os estudos anteriores foram realizados.
Dentre as medidas preventivas propostas p a ra pacientes epilépticos fotossensíveis, pareece ser de suma importância a indicação de assistir a televisão em aparelhos
a cores, a distância superior a 3 metros, com o ambiente mantido iluminado indiretamente 2,8,17. E s sa última medida decorre do fato de que, quando se está sentado
perto da televisão, a imagem ge rada por esta cobre extensa á r ea da retina, provocando maior estimulação
2
.
1 2
.
Embora o tratamento mais eficaz p a ra o paciente fotossensivel seja evitar condições estimulantes que provocam crises epilépticas, dependendo do tipo e freqüência
de crises, pode-se prescrever profilaticamente drogas anti-epilépticas, como fenobarbital, fenitoina
2
>
1 7
, v a l p r o a t e
1 1
ou b e n z o d i a z e p i n e s
3
. Em nossos casos instituímos
o uso do fenobarbital e obtivemos controle das crises epilépticas durante o tempo de
seguimento. R E F E R Ê N C I AS
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