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terça-feira, 11 de agosto de 2009
SINDROME OCULAR ISQUEMICA
A síndrome ocular isquêmica representa manifestação da hipoperfusão
crônica do suprimento arterial ocular. A arterite de Takayasu caracterizase
pelo acometimento de grandes vasos, com graus variáveis de obstrução,
geralmente ramos da aorta. O objetivo deste trabalho é relatar um caso
de síndrome ocular isquêmica secundário à arterite de Takayasu. O exame
da angiografia fluoresceínica digital evidenciou presença de sinais de
hipoperfusão coriorretiniana e shunts arteriovenosos, e a arteriografia
mostrou sinais de diminuição acentuada do fluxo sangüíneo de ambas as
carótidas, direita e esquerda, acima de 90%
A síndrome ocular isquêmica (SOI), descrita pela primeira vez por
Brown, compreende a manifestação de hipoperfusão crônica do suprimento
arterial ocular, que pode levar a comprometimento funcional da visão(1).
Geralmente é secundária à ateroesclerose das artérias carótidas, mas pode
estar relacionada à arterite de Takayasu ou arterite de células gigantes, e
mais raramente à estenose de artéria oftálmica(1-3).
A arterite de Takayasu foi inicialmente demonstrada no Japão, em 1908
por Takayasu* que observou alterações oculares em mulheres jovens
portadoras de vasculopatia carotídea (citado por Haimovici, 1989).
Em 1951, Shimizu e Shikano** descreveram clinicamente a doença, e
depois, vários relatos de caso mostraram que acomete todas as raças em
todas as partes do mundo (citado por Haimovici, 1989). Pode ser denominada
como síndrome do arco aórtico, síndrome de Martorell, coarctação da
aorta atípica, arterite braquiocefálica e aortite idiopática(4).
É uma arterite obstrutiva inespecífica, de caráter imunológico, na qual
são acometidas as artérias de grande calibre por processo inflamatório
granulomatoso, geralmente ramos da aorta, que leva a uma obstrução secundária à esclerose fibrosante(4-5).
Diante dos sinais de sofrimento isquêmico ocular, sugerindo
alterações vasculares, solicitamos extensa avaliação laboratorial
incluindo hemograma completo, leucograma, glicemia de jejum,
perfil lipídico, provas de função renal e hepática, sumário de
urina, velocidade de hemossedimentação (VHS), antiestreptolisina-
O, proteína C reativa, fator antinúcleo, fator reumatóide,
eletroforese de proteínas plasmáticas, perfil tireoidiano.
Para confirmar diagnóstico foi solicitado eletrocardiograma,
ecodopplercardiograma, cintilografia tomográfica de
perfusão miocárdica, ultra-sonografia com Doppler de carótidas
e arteriografia.
A avaliação laboratorial demonstrou aumento no colesterol
total (291 mg/dl com LDL de 220 mg/dl) e VHS (25mm 1a.
hora). Os demais exames laboratoriais encontravam-se dentro
dos padrões da normalidade. O eletrocardiograma, o ecodopplercardiograma,
a cintilografia tomográfica de perfusão miocárdica
não mostraram alterações.
O ultra-som com Doppler de carótidas observou ausência
de fluxo sangüíneo, nas carótidas esquerda e direita, sugerindo
obstrução de ambas as carótidas comuns.
A arteriografia demonstrou oclusão da artéria subclávia
direita na origem, artéria subclávia esquerda com estenose de
75 a 90%. A artéria carótida comum direita apresentava estenose
de 90% proximal, não sendo possível observação distal
das artérias carótidas internas e externas. A artéria carótida
esquerda estava ocluída na origem. Artéria vertebral esquerda
com estenose ostial de 75%. O exame demonstrou comprometimento
importante da perfusão de ambas as carótidas, sendo
os achados compatíveis com arterite de Takayasu
arteriovenosos
demonstrados na angiografia fluoresceínica.
Outros achados comuns são congestão de veias retinianas,
extravasamento, neovascularização, microaneurismas, e menos
comumente observam-se manchas algodonosas, NOIA e
êmbolos retinianos(4,8-10).
O tratamento da arterite de Takayasu consiste no uso de
esteróides a longo prazo quando é diagnosticada na fase
inicial, pode ser controlado pelos dados laboratoriais que
indicam a sua atividade como VHS e proteína C reativa(4,11).
Quando as obstruções estão presentes, a terapia com esteróide
não se mostra eficaz, pois não reverte as alterações
anatômicas e funcionais. A indicação cirúrgica é feita em cerca
de 9% dos casos e limita-se à isquemia cerebral e claudicação
de membros intensa(4). O diagnóstico tardio ou presença de
lesões nas artérias aórticas intensas fala a favor de prognóstico
reservado(4,11).
O tratamento da SOI depende de como o quadro oftalmológico
se encontre. Em pacientes com rubeosis iridis e ângulo
aberto, a fotocoagulação pode ser a primeira escolha, não
obtendo sucesso pode-se realizar cirurgia filtrante(1). A endarterectomia
estabiliza ou obtém alguma melhora visual em 25%
dos pacientes, mas na maioria dos casos falha devido ao dano
prévio secundário à hipóxia e glaucoma(11-13).
Diante do quadro da paciente, a nossa conduta foi expectante
até termos uma definição do serviço de cirurgia vascular à
qual foi encaminhada, para avaliar a possibilidade de tratamento
cirúrgico para restaurar o fluxo arterial carotídeo. A importância
deste relato é mostrar a necessidade de estarmos conscientes
dos problemas sistêmicos que apresentam alterações oftalmológicas.
Devemos sempre estabelecer diagnósticos precisos
para realizarmos terapêutica adequada, proporcionando uma
melhor qualidade e expectativa de vida nesses pacientes
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