SURDEZ/PREVENÇÃO - O Teste da Orelhinha como prevenção das deficiências auditivas
O que é o teste da orelhinha e qual a sua importância?
DIÁRIO DA MANHÃ
MÁRCIO NIEMEYER
A surdez é o distúrbio sensorial mais comum ao nascimento. Entramos então numa grande contradição quando priorizamos a realização do “teste do pezinho” em detrimento do então popularmente conhecido como “teste da orelhinha”. Todas as condições testadas no dito “teste do pezinho” são muito menos frequentes do que a surdez e a não detecção desta condição e a consequente ausência de tratamento adequado, que idealmente deve ocorrer até os seis meses de vida, dificulta a adaptação destes indivíduos à sociedade. A perda auditiva tem uma frequência 50 vezes maior que a fenilcetonúria, 12 vezes maior que o hipotireoidismo e é três vezes mais comum que a síndrome de Down. De forma nenhuma aqui, há uma defesa de um em detrimento do outro, mas sim da realização dos dois testes de triagem neonatal, assim como de outros aqui não mencionados.
Um estudo realizado nos Estados Unidos, em 1998, no Estado do Colorado, mostra de forma inconteste que crianças com perda auditiva que são tratadas antes dos 6 meses de vida têm, aos 3 anos, índices de linguagem comparáveis às crianças com audição normal.
As emissões otoacústicas são sons gerados na cóclea (ouvido interno) e captados no meato acústico externo por uma sonda. São emitidas de forma espontânea em 40 a 60% das pessoas com audição normal. O aparelho usado no “teste da orelhinha”, gera sons que estimulam o aparecimento das emissões otoacústicas. Portanto, ao mesmo tempo em que é um gerador de sons estimuladores, é um captador dessas emissões provocadas. As otoemissões provocadas aparecem em virtualmente 100% dos indivíduos com audição normal. O “teste da orelhinha” é um exame rápido, de fácil realização, não invasivo e indolor. Deve ser realizado, de preferência, antes da alta da maternidade, com aparelho apropriado e por profissional devidamente habilitado. Como é um exame de triagem, seu resultado negativo não significa presença de surdez, mas essas crianças devem, no momento apropriado, repetir o referido exame e quando indicado pelo otorrinolaringologista, submeterem-se a outros pertinentes. Neonatos com outros fatores de risco para surdez também necessitam de um acompanhamento mais pormenorizado.
Inúmeras são as causas de surdez em recém-nascidos como baixo peso ao nascimento, prematuridade, hipóxia (baixa oxigenação) durante o parto, internação em UTI neonatal, uso de certos medicamentos e as causas congênitas. Nos países desenvolvidos, as causas genéticas são as mais comuns. Estas podem aparecer tão somente como uma perda auditiva isolada (50% dos casos) ou pertencente a determinadas síndromes. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, as infecções congênitas ainda apresentam grande importância devido à baixa cobertura vacinal e ao acompanhamento pré-natal precário. O esclarecimento quanto à importância deste exame aos pais e a não negligência quanto a sua realização, inclusive pelo poder público, permite então o diagnóstico precoce da perda auditiva e seu tratamento no momento oportuno, permitindo uma vida destas crianças mais adaptada, mais feliz e como menos ônus à sociedade.
(Márcio Niemeyer, médico otorrinolaringologista. e-mail: marcioniemeyer@gmail.com)
FONTE - http://arquivo.dm.com.br/texto/gz/120972
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