PARCERIAS

sexta-feira, 31 de maio de 2013

DEFICIÊNCIA DA BIOTINIDASE

O QUE É A DEFICIÊNCIA DA BIOTINIDASE?
(Colaboração da Dra. Eugênia Ribeiro Valadares e Dra. Carolina F. Moura Souza)

A DEFICIÊNCIA DA BIOTINIDASE é uma doença metabólica tratável na qual o organismo não consegue obter a vitamina BIOTINA da maneira adequada. O diagnóstico precoce com o início do tratamento ainda nos primeiros meses de vida, assegura ao bebê uma vida normal sem qualquer sintoma da doença.
O corpo humano é muito complexo. Dentro dele, milhares de reações químicas ocorrem envolvendo os alimentos que ingerimos, o ar que respiramos, a nossa adaptação ao meio ambiente e o nosso crescimento e desenvolvimento. Algumas destas reações químicas permitem que alimentos sejam processados ou metabolizados para serem utilizados pelo nosso organismo.
As enzimas são proteínas especiais produzidas pelo organismo para permitirem que as reações químicas ocorram. Enzimas com função adequada são chamadas ativas ou com atividade. Algumas enzimas precisam de vitaminas para serem ativas. Freqüentemente uma única enzima ativa atua no fornecimento de substâncias diversas que o nosso organismo precisa.
Algumas vezes o organismo não produz uma determinada enzima em quantidade suficiente ou a enzima que é fabricada não trabalha adequadamente. Isto faz com que a enzima tenha uma redução da sua atividade e não funcione como deveria. Outras reações químicas que dependem desta enzima também podem estar prejudicadas.
Se a atividade da enzima é inferior a 10% de sua atividade normal ela é considerada deficiente.Normalmente deficiências enzimáticas acarretam problemas médicos. Problemas de saúde decorrente de uma enzima deficiente são chamadas doenças metabólicas porque o metabolismo ou os processos químicos do organismo não está acontecendo normalmente.
A biotinidase é uma importante enzima no nosso organismo. Pessoas com deficiência da biotinidase não possuem atividade da biotinidase suficiente (Figura 01). Indivíduos com deficiência da biotinidase possuem a atividade da enzima inferior a 10% do normal e às vezes não têm nenhuma atividade. Estas pessoas com atividade da biotinidase inferior a 10% da média normal têm deficiência profunda de biotinidase. Os pais de crianças com deficiência da biotinidase têm aproximadamente 50% da atividade normal da biotinidase, o que é suficiente para prevenir problemas de saúde. As pessoas que possuem a atividade da biotinidase entre 10 e 30% do normal possuem deficiência parcial de biotinidase. As duas formas requerem tratamento. A figura abaixo ilustra os percentuais de atividades da biotinidase no sangue e os compara com a atividade normal.



A biotinidase é uma importante enzima no ciclo da biotina, cadeia de reações químicas envolvidas na utilização e reutilização da vitamina biotina, como mostra a Figura 02. Uma importante tarefa da biotinidase é de separar ou liberar a biotina das proteínas dos alimentos. Além disso, a biotinidase permite que o organismo recicle a biotina várias vezes para que não haja necessidade de consumirmos grande quantidade desta vitamina na nossa dieta diária.
A biotina livre é necessária para que um grupo de enzimas chamado carboxilases funcione perfeitamente. Carboxilases são importantes no metabolismo de algumas gorduras, carboidratos e proteínas. Para que a carboxilases inativa se torne ativa, a biotina livre deve estar anexada ao aminoácido, lisina, em um local especifico da carboxilase inativa.
Eventualmente as carboxilases são degradadas, mas a biotina fica anexada na lisina. Este complexo biotina-lisina é conhecido como biocitina. Biocitina é normalmente degradada pela biotinidase em biotina livre e lisina. Deste modo, biotina é reciclada e pode ser reutilizada pela carboxilases.
Quando a atividade da biotinidase é deficiente a biotina que está contida nos alimentos não pode ser utilizada pela carboxilases. As carboxilases são incapazes de exercer suas funções normais. Sem a atividade adequada da biotinidase, o organismo precisa de grandes quantidades de biotina livre, mais do que o consumido em uma dieta normal. Quando não há biotina disponível no organismo começam a surgir problemas de saúde.
Uma pergunta freqüente é: como a deficiência da biotinidase afeta minha criança?
SEM O TRATAMENTO
Sem a ingestão de biotina, crianças com deficiência da biotinidase podem desenvolver um ou mais dos sintomas abaixo relacionadas:
- Alopécia (queda de cabelo);
- Atraso de desenvolvimento;
- Hipotonia;
- Aciduria lática;
- Convulsões;
- Erupções de pele/ infecções de pele;
- Ataxia;
- Conjuntivite;
- Perda de audição;
- Letargia;
- Hiperamonêmia leve;
- Problemas respiratórios;
- Problemas de visão;
- Coma;
- Dificuldade para alimentação;
- Infecções fúngicas;
- Hepatomegalia (aumento do fígado);
- Problemas de fala;
- Esplenomegalia (aumento do baço).
Os sintomas normalmente se manifestam entre o terceiro e o sexto mês de vida, mas podem aparecer mais cedo, como por exemplo, com uma semana de vida ou mais tarde, com dez anos de idade. O número de sintomas que uma criança desenvolve e a seriedade do distúrbio pode variar de criança para criança, mesmo sendo da mesma família.
Os sintomas iniciais da deficiência da biotinidase geralmente incluem convulsões de vários tipos, especialmente convulsões mioclônicas, e hipotonia. Estes sintomas não são exclusivos da deficiência da biotinidase, mas são uma pista para investigá-la. Outros sintomas que ocorrem precocemente incluem taquipnéia (respiração rápida), hiperventilação, estridor (respiração ruidosa), apnea, erupções de pele, seborréia ou dermatite atópica, queda parcial ou completa de cabelo, conjuntivite, atraso no desenvolvimento mental. A ataxia e o atraso no desenvolvimento são observados na evolução da doença. O sistema imune aparentemente se altera e infecções virais e bacterianas podem ocorrer em crianças sem tratamento. A perda da audição costuma ser neurosensorial e problemas de visão, prinicipalmente atrofia ótica, podem surgir. Metabólitos podem ficar acumulados anormalmente causando danos permanentes a órgãos como cérebro, pele, ouvido e olhos. Crianças que não recebem tratamento adequado podem vir a óbito precocemente.
De acordo com uma pesquisa feita pelo Dr. Barry Wolf* 95% das crianças que apresentaram algum tipo de sintoma tem também algum grau de perda de audição. Portanto se o seu filho/paciente apresentou algum dos sintomas listados acima, convém efetuar um teste de audição. Se o seu filho não apresentou nenhum sintoma e foi medicado nas primeiras semanas de vida o exame não é necessário.

A deficiência da biotinidase não diagnosticada e tratada pode ser considerada uma das causas da Síndrome da Morte Súbita na Infância, apesar de serem necessárias mais informações nesta área.
COM TRATAMENTO:
Todas as crianças que desenvolveram os sintomas da deficiência da biotinidase tiveram significativas e rápidas melhoras com o inicio da ingestão de biotina.
As crianças que fizeram o teste de triagem neonatal (Teste do Pezinho) e iniciaram o tratamento precocemente, até a presente data, não desenvolveram nenhum dos sintomas.


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