Tumores da Região Pineal – Germinoma: Apresentação de Caso Clínico.
Autores: Damiani, D.; Santos, E.
Bolsista: Daniel Damiani
Orientador: Durval Damiani - Universidade de Santo Amaro - Clínica Médica / Endócrinologia Pediátrica
Resumo:
Dentre os tumores do sistema nervoso central (SNC), a maior variedade de tipos patológicos ocorre na região da glândula pineal e área posterior do
terceiro ventrículo. Os numerosos tipos celulares que constituem a glândula pineal normal e a região periventricular circunvizinha contribuem para esses
diversos subtipos histológicos.
Os TCG (tumores de células germinativas) constituem aproximadamente 1/3 de todos os tumores da pineal e são histologicamente idênticos aos TCG das
gônadas, com predominância em homens mais jovem. Os TCG extragonádicos têm um prognóstico pior que os TCG gonádicos. Os TCG variam ao longo
de um espectro, desde benignos a altamente malignos.
Neste trabalho, apresentamos o caso de uma menina de 13a 9m de idade, que inicia seu quadro com poliúria e polidipsia, secundárias a um germinoma de
pineal.
Caso Clínico:FSI com 13a e 9m, sexo feminino, apresentou um quadro de intensa poliúria com polidipsia associada a cefaléias por dois anos e meio.
Apesar de ter sido consultada várias vezes nesse período, não foi solicitado nenhum exame de imagem de SNC. No episódio mais recente de cefaléia,
associada a intensa poliúria e polidipsia,TC de crânio revelou um germinoma pineal, ressecado em março de 2002. As RNM mostraram a localização do
tumor na região pineal com expansões para o eixo hipotalâmico-hipofisário. A paciente evoluiu sem complicação no pós-cirúrgico não evidenciando
outras deficiências hormonais além de ADH e manteve seu tratamento com DDAVP (0,05mL/dia). Em RNM de rotina para acompanhamento
neurocirúrgico mostrou recuperação excelente com boa resposta à quimioterapia e radioterapia. A paciente foi submetida a quimioterapia como medida de
eliminação total da presença tumoral. Sessões de radioterapia foram indicadas seguidas de quimioterapia. Realizando a última sessão de quimioterapia em
Setembro de 2002. Em 25/11/2002 teve alta do neurocirurgião, com constante administração do DDAVP. A paciente sentia-se bem sem apresentar cefaléia
ou qualquer distúrbio ocular. Manteve controle com beta-hCG e alfa-feto proteína (AFP) a cada 3 meses. Em abril de 2003, apresentou menarca.
Evolução clínica: Em 4/07/2003 apresentou níveis muito elevados de beta-hCG (404,40mUI/mL – normal para mulheres não grávidas < 25mUI/mL) e
AFP (99,57UI/mL – normal < 20UI/mL)mostrando recidiva tumoral. Exame de líquor mostrou-se normal sem a presença de células neoplásicas. Indicada
a RNM de crânio foi diagnosticada recidiva tumoral na porção meníngea parietal com hiperintensidade de sinal. Paciente foi indicada quimioterapia
seguida de radioterapia.
Discussão:
Em geral, os tumores pineais benignos são passíveis de cura exclusivamente com cirurgia. Entre os tumores malignos, o prognóstico depende da histologia
do tumor. Os germinomas têm uma sobrevida por cinco anos de 75-80%, com cirurgia e radioterapia combinadas. Cerca de um terço dos astrocitomas é
cístico e é curado por cirurgia exclusivamente. Os astrocitomas sólidos comportam-se clinicamente como outros gliomas do tronco cerebral e têm
freqüência de sobrevida por cinco anos de 67%. A radioterapia é geralmente recomendada para esses tumores, mas é difícil avaliar-se qualquer efeito sobre
a sobrevida. Entre os tumores de células pineais, alguns são discretos, histologicamente benignos e inteiramente ressecáveis. A maioria dos tumores
malignos de células pineais, porém, não é passível de ressecção e tem uma freqüência de sobrevida por 5 anos de 55% com cirurgia e radiação. O caso
apresentado mostra o acometimento preferencial dos germinomas que é a pista clínica para sua detecção, ou seja, diabetes insípidus. A paciente ficou por
mais de dois anos com a queixa, sem ter sido submetida a exame de imagem. Mesmo após uma ressecção aparentemente total, quimio e radioterapia, não
se deve descuidar da monitorização cuidadosa. Em meninos, quando o tumor é produtor de beta hCG, a indução de puberdade chama a atenção e pode
confundir com puberdade normal, dependendo da idade, já que ocorre estimulação de células de Leydig e os testículos podem iniciar aumento de volume.
No entanto, trata-se evidentemente de uma pseudo-puberdade, já que o estímulo não é via eixo hipotálamo-hipófise-gônada. Nas meninas, no entanto, não
ocorre indução pubertária e, como em nosso caso, a puberdade atrasou.
Conclusões:
1.A presença de diabetes insípidus (DI) deve, obrigatoriamente, exigir a realização de exames de imagem de SNC, já que processos tumorais ou
granulomatosos/infiltrativos (sarcoidose, tuberculose, histiocitose, entre outros) podem ser a causa da disfunção endócrina.
2.Apesar de os germinomas serem tumores que respondem bem a quimio e radioterapia, um controle rigoroso, com dosagem de marcadores séricos é
obrigatória para detecção de recidivas.
3.Apesar de produzirem beta hCG os germinomas, em meninas, não costumam levar a puberdade precoce, já que os ovários necessitam da ação combinada
de LH e FSH para que levem adiante os processos puberais. Já no menino, o beta hCG isoladamente é capaz de estimular as células de Leydig, com
produção de testosterona, que desencadeia puberdade.
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