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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

GEDR como Movimento Social


GEDR um Movimento  Social:

            O uso da expressão "movimento social" pretende se referir à espontaneidade de manifestações associativas de cidadãos, aludindo a características gerais de informalidade, ,intermitência, fluidez, inspiração política e maior expressão numérica de participantes.  Isto não quer dizer que todos os movimentos sociais sejam de baixa organicidade .

Mas creio que a continuidade do uso da expressão "movimentos sociais" obedece a três lógicas:
1)      a necessidade estratégica das ONGs/SMP em sublinharem sua diferença em relação às associações de cidadãos que assessoram, ou seja, entre o corpo técnico das ONGs/SMP e sua clientela, os cidadãos assessorados;
2)        a preocupação em salientar a visão e a atuação mais crítica destes movimentos  aplicada às ciências sociais, distinguindo-os das demais associações civis sem a mesma inspiração política;
3)        a naturalização da sua presença intermitente, de seus fluxos e refluxos, de seus recessos, relacionados aos momentos diferentes dos ciclos vitais de sua militância.

            Segundo Machado (1986), as análises sociológicas sobre os movimentos sociais, feitas no decorrer de 70 e início dos anos 80 padeciam de certos equívocos: "estudava-se o corriqueiro, o banal, pensando no grandioso e na ruptura". Os estudos tinham ainda uma concepção monolítica e instrumentalista do Estado .

            A partir de 1980, a Sociologia produz nova categoria, a dos “novos movimentos sociais”. O que seriam?
             De acordo com Habermas (1981), desde os anos 60 começaram novos conflitos, que não estariam mais na área da reprodução material nem seriam canalizáveis pelos partidos e organizações. Seriam formas sub-institucionais e extra-parlamentares de protesto, buscando defender estilos de vida ameaçados. Não teriam a ver com problemas de distribuição, mas com a "a gramática das formas de vida ", com uma nova política que enfoca problemas da qualidade de vida, igualdade, auto- realização individual, participação e direitos humanos. Esta nova política teria como sujeito uma nova classe média, os jovens e os grupos de alta escolaridade. A crítica ao crescimento econômico os unificaria. Suas expressões européias eram o movimento anti-nuclear, o movimento ambientalista, o pacifista, os alternativos, as minorias, os movimentos de ação do cidadão (Habermas, 1981:33).
            Para  Evers (1984), Novos Movimentos Sociais são aqueles que renovam padrões sócio-culturais e psíquicos do cotidiano, em direção à sociedade alternativa. O autor propõe que sejam vistos como "fragmentos de subjetividade atravessando a consciência e a prática das pessoas e das organizações. Caracterizam-se pelo número baixo de participantes, pelas estruturas não-burocráticas e até informais, pelas decisões coletivas e pelo não-distanciamento entre líderes e participantes. No Brasil, seriam uma cultura de classe média e das comunidades eclesiais, em busca de uma construção de identidades e de um projeto emancipatório. O autor então questionava se a população pobre e marginalizada poderia vivenciar novas formas de sociabilidade.

            Os Movimentos Sociais caracterizariam, segundo Touraine (1984), um ator coletivo engajado num conflito pela gestão social, enquanto que os Novos Movimentos Sociais não atacariam a divisão do trabalho ou formas de organização da economia, mas sim os valores culturais, o progresso. O conceito de luta de classes seria insuficiente para entendê-los. Marcariam o início de um momento romântico que estaríamos começando a viver.
a) um primeiro momento, durante a ditadura dos anos 70, quando os movimentos de mães e de moradores pobres das periferias  metropolitanas, assessorados pela Igreja e por uma militância política que não tinha outro canal de expressão, colocavam suas reivindicações de atendimento a demandas básicas diante do Estado, e expressavam seu descontentamento em manifestações contra a carestia (os chamados movimentos sociais urbanos);

b) um segundo momento, a partir do início da década de 80, quando novos partidos, um novo sindicalismo, associações de bairro e suas federações se organizam, movimentos de mulheres, de etnias, movimentos ambientalistas surgem, todos ainda tendo como traço comum a eleição do Estado como interlocutor básico, dele demandando políticas públicas efetivas e adequadas.

            Para Jacobi & Nunes (1983), os Movimentos Sociais revelavam a precariedade dos canais de representação política no período autoritário.
                       
            Segundo Scherer-Warren (1993:20-25), a temática dos movimentos sociais deu lugar, nos estudos sociológicos dos anos 90, a estudos sobre o antimovimento ou condutas de crise, a desmodernização, a exclusão, a massa enquanto agregado inorgânico, numa palavra, ao desmovimento. O estudo dos movimentos sociais que persistiu, o repensa a partir do estudo das interconexões entre o local (comunitário) e o global (supranacional, transnacional), com ênfase no estudo das articulaçôes em redes, bem como nas análises sobre a persistência dos vestígios das formas tradicionais de fazer política (clientelismo, paternalismo, autoritarismo populista ou estalinista) nos celebrados Novos Movimentos Sociais.

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