A doença deve-se a um defeito genético hereditário, que determina a produção de uma hemoglobina defeituosa, denominada hemoglobina S. Neste tipo de hemoglobina, as cadeias de globina beta têm uma constituição defeituosa e, especialmente perante a escassa presença de oxigénio, tendem a unir-se entre si provocando uma deformação dos glóbulos vermelhos, que adoptam uma peculiar forma de foice em vez da sua habitual forma de disco bicôncavo, o que proporciona a prematura destruição dos glóbulos vermelhos afectados, provocando uma anemia do tipo hemolítico. Para além disso, os glóbulos vermelhos de forma atípica, pouco flexíveis, têm dificuldade em circular pelos vasos sanguíneos de diâmetro mais reduzido (capilares), podendo obstrui-los e provocar alterações na assimilação de sangue dos tecidos encarregues de irrigar.
A doença apenas se desenvolve em pessoas que herdam o gene defeituoso de ambos os progenitores, pois quem somente herdar o gene anómalo de um único progenitor não será afectado pela doença, pois conta com um gene normal que, só por si, garante a produção suficiente de hemoglobina A, impedindo a deformação dos glóbulos vermelhos. De qualquer forma, estas pessoas, por serem portadoras do defeito genético, podem transmiti-lo aos seus filhos, que irão sofrer da doença, caso também o herdem do outro progenitor.
Manifestações e evolução
A doença costuma manifestar-se logo a partir dos primeiros 6 meses de vida, embora apenas se evidencie, ocasionalmente, por volta dos 20 anos. Surge sob a forma de crises, por vezes sem causa aparente, mas pode ser desencadeada por factores como a altitude, exposição ao frio, infecções, estados de desidratação ou administração de determinados medicamentos. Durante as crises, produz-se uma intensa destruição dos glóbulos vermelhos deformados e também alterações provocadas pelo bloqueio dos vasos sanguíneos mais finos: por um lado, origina os sintomas próprios de uma anemia do tipo hemolítico, tais como palidez, cansaço, dores de cabeça, sensação de falta de ar, coloração amarela da pele e mucosas (icterícia), entre outras; por outro lado, apresentam-se manifestações resultantes da insuficiência circulatória, que podem ter diversas repercussões conforme o órgão afectado: dores nos ossos, problemas pulmonares, renais, intestinais e cerebrais, com uma variada gama de sintomas e complicações capazes de deteriorar a qualidade de vida do paciente e até provocar a sua morte. Em algumas das crianças afectadas pode ocorrer um aumento significativo do baço e uma destruição tão rápida de glóbulos vermelhos que provoca uma anemia grave, potencialmente mortal.